SIMONE SANTARÉM - EMBAIXADORA DA ONU/FAO

SIMONE SANTARÉM, ONU, FAO

SIMONE SANTARÉM


Conversamos com a Médica Veterinária (UFRPE) e Mestre em Agronegócio (UNB) Simone de Brito Barreto, mais conhecida como SIMONE SANTARÉM. 

Ela é da localidade de Santarém, interior do município de Casa Nova - BA.

SIMONE SANTARÉM é Embaixadora da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura ONU/FAO na Campanha Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos.


   Qual sua história de vida, sua vivência na Agricultura Familiar?

SIMONE SANTARÉM, ONU, FAO

MULHERES RURAIS, MULHERES COM DIREITOS


Simone Santarém:

Sou filha de agricultores familiares, minha família é de Casa Nova – Bahia, produtores de mandioca, feijão, melancia, milho, caprinos, ovinos, bovinos e mel. Então, na minha infância, quando não estava nos roçados plantando, estava na casa de farinha, na desmancha de mandioca e sempre participando dos cuidados e tratos com os animais, em especial de pequenos e de médio porte.


   Qual o papel da mulher na agricultura familiar?

Simone Santarém:

A mulher tem um papel reprodutivo e produtivo que anda de mãos dadas e muitas vezes se mesclam não sendo possível saber quem é quem.

Quando a mulher está realizando atividades de cuidados com a família como: cozinhar, pegar água, lenha, lavar a roupa são atividades reprodutivas que permitem a reprodução dessa família, permite que novas gerações surjam. 

Quando ela está a frente do trabalho com os pequenos animais como galinhas, caprinos, produção de ovos, hortas, o plantio da mandioca e também o processamento, como o fabrico de farinha, tapioca, doces, queijos entre outros, ela está executando uma atividade de produção. Produz alimentos que parte vem para a família, parte é doada e parte é comercializada. 

Quando comercializada se percebe com mais facilidade a parte produtiva. Desse modo, as mulheres executam quase que 100% do trabalho reprodutivo e executam grande parte do trabalho produtivo. No Brasil 45% dos alimentos produzidos é feito por mulheres.


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MULHER RURAL - AGRICULTURA FAMILIAR


   O que você considera ser um dos grandes desafios para a mulher no agro em geral?

Simone Santarém:

O grande desafio é tornar o trabalho dessas mulheres visível. A mulher ainda é tida como ajudante. E não é! É trabalhadora!

E nesse papel de “ajudante”, sem nenhuma remuneração, essas mulheres terminam exercendo uma carga de trabalho brutal, não tem nenhuma autonomia financeira o que infelizmente, leva essas mulheres a viverem uma serie de violências. 

Infelizmente essa invisibilidade faz ainda com que as mulheres acessem menos crédito, tenham menos assistência técnica e também menos acesso à terra. É preciso igualdade de acesso para que o potencial transformador das mulheres do campo, da floresta e das águas seja aproveitado.


MULHER RURAL - AGRICULTURA FAMILIAR

MULHER RURAL - TRABALHO E DESAFIOS



 Conte-nos como se tornou Embaixadora da ONU/FAO no Brasil e da importância e responsabilidades do cargo?

Simone Santarém:

Trabalhando no extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA com o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar – SIPAF, hoje Selo Nacional da Agricultura Familiar - SENAF, me aproximei muito das pautas e reivindicações das mulheres rurais, a partir das quais construímos o SIPAF Mulher Rural. 

Também passei a atuar na Campanha Mulheres Rurais Mulheres com Direitos, apresentando a campanha junto com meu trabalho com o selo.

Foi da minha vivência com o campo, do trabalho com as mulheres rurais através do selo que me tornei embaixadora dessa campanha que é realizada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO, em toda América Latina, Caribe e Brasil que sempre realiza ações próprias no período da campanha.

A responsabilidade é o trabalho diário para a visibilidade das mulheres rurais, levando a campanha para todas as partes do país, construindo campanha em municípios no Brasil. 

Nesse momento estamos elaborando uma Campanha para Casa Nova e outros municípios no Brasil - seja pesquisando, publicando artigos, postando em redes a importância do trabalho dessas mulheres para um mundo com igualdade, sem fome e sem pobreza.


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ONU FAO




   Fale nos sobre importância da campanha da FAO "Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos" e das ações desenvolvidas e resultados obtidos.

Simone Santarém:

A campanha criada em 2015, visibiliza e valoriza o trabalho das mulheres rurais, tornando essas mulheres trabalhadoras e não ajudantes. 

Visibilizando esse trabalho inclusive para as próprias mulheres, que muitas vezes se veem como ajuntes e não trabalhadoras. 

Se faz necessário que estas mulheres enxerguem que através do seu trabalho estão contribuindo com a economia do país, a segurança e soberania alimentar, a manutenção de hábitos e costumes alimentares e que mesmo sem serem remuneradas, elas são trabalhadoras.

Entre as ações estão essa discussão com as mulheres para se verem como trabalhadoras e que essas mulheres conheçam seus direitos, assim como a sociedade tenha conhecimento do trabalho realizado pelas mulheres rurais para que o alimento chegue a sua mesa, por exemplo.

Como resultados, pudemos ouvir e conhecer muito o trabalho excepcional desenvolvido pelas mulheres do campo, da floresta e das águas. Suas dificuldades de acesso as políticas públicas que sempre são repassadas aos órgãos públicos para que políticas de acesso sejam construídas a partir da realidade e das reinvindicações dessas mulheres.

O SENAF Mulher Rural é um resultado dessa campanha. Esse selo permite identificar a produção das mulheres rurais e isso é muito significativo, pois a sociedade tem a possibilidade de ver no seu dia a dia o trabalho dessas mulheres chegando a sua mesa, por exemplo.

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SIMONE SANTARÉM - ONU FAO - MULHER RURAL



   Quais foram os avanços para a valorização do trabalho das mulheres rurais levando se em conta a histórica desvalorização em relação ao trabalho dos homens?

Simone Santarém:

Tivemos a construção de linhas de crédito especificas, como o Pronaf Mulher, ATER (Assistência Técnica de Extensão Rural) específica para mulheres, a construção da Caderneta Agroecológica que visibiliza e monetariza o trabalho dessas mulheres, o fortalecimento da participação das mulheres nos espaços de decisão.

Temos cada vez mais mulheres ocupando espaços dentro das entidades representativas da agricultura familiar. 

Na atualidade organismos internacionais como a FAO coloca a mulher como peça-chave para acabar com a fome no mundo. 

Temos hoje editorais em revistas especifico para discutir a importância e as ações das mulheres rurais. Assim como a discussão da divisão justa do trabalho doméstico que já chega aos lares rurais. 

Ainda temos muito o que construir, mas, estamos caminhando, apesar de alguns retrocessos. 

MULHER RURAL - TRABALHO E DESAFIOS


VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DA MULHER RURAL



  Qual a mensagem de SIMONE SANTARÉM para as mulheres rurais do sertão nordestino?

Simone Santarém:

Primeiramente, que todas se vejam como trabalhadoras e não ajudantes! 

Que valorize cada trabalho realizado dentro e fora da sua unidade familiar, olhando sempre o seu trabalho como algo valoroso para sua família, sua comunidade e o mundo. 

Que se lembrem da importância do seu trabalho para um mundo justo e sem fome. Mas, também que cuidem da sua saúde física e mental, não se deixem sobrecarregar, levem com a leveza que o tema exige a discussão da divisão justa do trabalho doméstico para suas famílias, sempre que possível ocupem os espaços de fala. 

E no final disso tudo. Tirem dias de folga. Descansem! Todos, todas e todes têm direitos ao descanso e ao lazer.

1 Comentários

  1. Que linda entrevista 👏👏👏👏
    JUSCILENE
    Paulo Afonso BA

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